segunda-feira, abril 25, 2005

A Revolução, a Liberdade e Eu.


Capitão Salgueiro Maia

25 Abril 2005 – 31 anos após a Revolução de Abril o país cá vai à deriva, sem homem do leme que nos leve a bom porto, apenas com amostras de marinheiros falhados e sem convicções, apenas à busca de um lugar numa grande nau mas sem o gosto de navegar, de descobrir e de arriscar, nem que seja arriscar a falhar – mas falhar hoje em dia é algo que não é bem visto, mais vale nem tentar. A falta de destino, de rumo, assombra, persegue e atemoriza-nos…sentimo-nos ínfimos, mas, pese embora essa condição, não baixamos a cabeça e seguimos o nosso caminho. Mesmo que à nossa volta tudo pareça desmoronar-se, perder o valor, deixar de fazer sentido, mesmo que a subjugação do mérito e qualidades ao oportunismo e chico-espertismo, a facilidade do imediato à incerteza do futuro, a cada vez maior desigualdade de rendimentos e de oportunidades seja uma constante da nossa vida, em vários espectros da sociedade observamos exemplos de pessoas que continuam a querer ser livres, continuam a lutar por aquilo que acreditam e vivem, vivem de cabeça erguida, sem vergonha e sem medo. Sejam agricultores, trabalhadores especializados ou não, empresários, professores, desportistas, artistas, filósofos e até políticos! De todos os quadrantes somos confrontados com bons exemplos, pena seja que estes nunca sejam as pessoas sobre as quais se falam, se discutem ideias ou realizações, pena seja, que estamos condenados a uma existência limitadora daquilo que podemos desenvolver, é pena…Mas, com as novas tecnologias, com a rapidez com que se pode comunicar para todo lado, como se chega a todo lado, pode ser que se dê outra revolução, desta vez não apenas em Portugal, mas uma que afecte o globo todo, e que, de uma vez por todas, o sofrimento de milhões se extinga… mas isso não vai acontecer, pois não?
Nas minhas memórias da revolução, daquilo que fui absorvendo nestes meus 24 anos de vivência, os meus heróis da liberdade estão personificados em duas pessoas: Salgueiro Maia e Zeca Afonso, um militar e um músico. Talvez seja uma versão muito romantizada da revolução aquela que eu tenho, talvez seja fruto de nunca ter estudado esta parte da nossa história com verdadeira dedicação, mas quando penso na Revolução de Abril surgem-me estes dois intérpretes que, de diferente forma, influenciaram o rumo da nossa história, muito por culpa da sua coragem e da sua dedicação aos seus ideais.


Zeca Afonso