segunda-feira, março 31, 2008

memória

Tendo nascido nos 80's e sido teenager nos 90's, fui criado numa época em que a memória não era tão cultivada como é agora. Seja motivado pelas facilidades trazidas pelos novos meios de comunicação ou pelas tendências da moda, o facto é que a memória como forma de homenagear grandes personagens da nossa cultura têm vindo a ganhar uma expressão importante na forma como se transmitem, geração após geração, alguns dos valores que marcaram os dias de quem viveu a sua vida numa sociedade sempre em mutação, preservando a memória dos grandes actores desses momentos.

Musicalmente vimos isso no The Last Waltz ou no No Directions Home, dois grandes filmes do Martin Scorsese, um sobre os The Band – um grande documentário sobre uma das grandes bandas que durante quase duas décadas levou o rock’n’roll a um lugar onde ele deveria ter chegado mas nunca tinha chegado antes, segundo palavras de Eric Clapton – e outro sobre Bob Dylan, onde é retratado o seu percurso até ao famoso The "Royal Albert Hall" Concert, onde Dylan foi chamado de Judas e, como resposta, vociferou aos The Band “Play fucking loud”, todos eles falavam de pessoas que tinham sobrevivido ao passar dos tempos de uma forma em que tinham tido a oportunidade de influenciar muita gente e que, os The Band menos que Dylan, tinham sido reconhecidos pelo grande público. Actualmente, muita da industria musical e cinematográfica vive dessa “memória”, seja através das muitas reedições – veja-se o caso da reedição, no ano passado do mítico disco do Joaquim Costa, que faleceu recentemente e cujo trabalho foi preservado muito à sua custa e com a grande ajuda de alguns investigadores do rock nacional que não permitiram que a sua memória fosse esquecida -, seja através de tours de reunião – ele foi Bahaus, Led Zeppelin, MC5, até mesmo Love with Arthur Lee, ou melhor dizendo, os Baby Lemonades sem o Arthur Lee preso algures na Califórnia -, seja através da sétima arte, nomeadamente como podemos confirmar actualmente através dos sucessos de Walk the Line, Control, I’m Not There e, mais uma vez, como principal divulgador do blues e do rock’n’roll, o filme do Scorsese sobre os Rolling Stones que estreará brevemente por cá.

Todas estas formas de perpetuar uma memória têm sido bastante válidas e proveitosas para quem tem uma mente minimamente sequiosa por conhecimento ou em alguns casos apenas puro entretenimento, no entanto, a melhor forma de perpetuar essa memória tem sido através dos músicos e das versões que fazem dos outros músicos, foi assim que através da Jon Spencer Blues Explosion cheguei a Andre Williams e a RL Burnside, dos Rolling Stones a Muddy Waters, dos Warygunn a Link Wray, dos White Stripes a Son House, de Ryan Adams a Emmylou Harris e Townes Vand Zandt, de Clash a Bo Didley, de Beth Orton a Nick Drake and so on and so forth ou, economicamente falando, parece que estamos a chegar a algum lado através do método de backward induction…

Uma nota devida ao facto de que, no meu entender, este perpetuar não deve ser apenas uma forma de manter as coisas ab eternum, mas sim a atitude e a vida de quem ousou ser e contribuir para uma sociedade, no mínimo, mais expressiva.



Ps. E ainda não estrearam entre nós dois documentários recentes absolutamente fundamentais: Agile Mobile Hostile sobre o Black Godfather Andre Williams e Dream of Life sobre a Patti Smith.



Trailer - Agile Mobile Hostile (Mr. Andre William foi semi-resgatado do alcoolismo e do anonimato à uns anos pelo Jon Spencer e a sua Blues Explosion, pequena nota interna: o andre é um pouco parecido com o nosso amigo do: "És um biombo!", Ah e a afirmação "there's something about me that brings sex to the menu" podia ter sido retirada do livro de citações do idalécio! :)). Ver aqui (melhor definição) ou mesmo aqui:









1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Continuo a pensar que devias escrever mais, quando era nova queria ser escritora e fico amazed com a qualidade da tua escrita! Acho que pelo menos como crítico de música safavaste bem e serias bem melhor que muitos que escrevem sem sequer ter ouvido um acorde que seja ;)

8:17 da tarde  

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