Bom Fim-de-Semana
Gloria

Músicas, paixões e viagens...
Visão do palco secundário ao sair pela última vez do Paredes de Coura 2006, ao fundo actuavam os Selfish Cunt. Saldo final: muito bom! Nem a chuva nem ninguém estragou aquele que é o festival com mais carisma de Portugal. Obrigado a toda a malta que me acompanhou durante o festival e para o ano há mais, haja saúde!
Para terminar as actuações no palco principal, os Bauhaus subiram ao palco para um bom concerto, pese embora um pouco longo, no entanto, como completo desconhecedor da obra da banda até que me pareceu bem, especialmente as grandes malhas de baixo. Mas que o concerto devia estar a ser fenomenal, isso devia, a julgar pelo tralho que deu um mega fã quando se encontrava aos pulos a cantar entusiasticamente uma música qualquer...
A senhora merece a foto, já lá vão 30 ano a rockenrolar ou melhor, a psychobilar!
Embora a idade seja um posto, os The Cramps não deixam os seus créditos por mãos alheias e não defraudam quem vêm para os ver. Grande concerto, onde a mítica dupla Lux Interior & Poison Ivy mostram um pouco daquilo que os tornou na lenda que são e que veêm criando desde 1976! De certeza que a malta de coimbra não ficou desiludida.
O grande concerto da noite na categoria de sub 40 anos coube aos !!! Grandes batidas que deixam antever desde já um grande novo álbum. Muito bom concerto. Com direito a dedicatória especial na última ou penúltima música para duas fãs especiais, pena é que estas duas eram fãs dos Cramps!
Com estas peripécias todas tinhamos chegado ao último dia de festival, o qual aproveitamos para dar um pulinho ao Intermarché para levantar a grade de minis que tinha ficado reservada. No caminho, e em boa hora, decidimos parar no centro cultural e ver/ouvir um pouco das tardes de poesia. Foi dessa forma que assisteimos a uma grande sessão de poesia, declamada pelos exímios declamadores e poetas Adolfo Luxúria Canibal, Isaque (qualquer coisa, ele que me perdoe, mas já não me recordo do seu último nome) e o grande A. Pedro Ribeiro, que de entre outros, proporcionou um grande momento ao declamar este poema, entitulado Declaração de amor ao primeiro ministro, de sua autoria:Estou apaixonado pelo primeiro-ministro
por todos os primeiros-ministros
e pelos segundos
e pelos terceiros
Estou apaixonado por todos os
presidentes de Câmara
e de Junta
por todos os benfeitores de obra feita
por todos os que erguem e mandam erguer
estradas, pontes, casas,
estádios, fontanários, salões paroquiais
Estou apaixonado por todos aqueles
que governam, que executam,
que decidem sem pestanejar
por todos aqueles
que dão o cu pela causa pública
que se sacrificam pelo bem comum sem nada
pedir em troca
Quero votar entusiasticamente em todos eles
encharcá-los de votos
até que se venham
em triunfo
Estou
apaixonado pelo primeiro-ministro
quero vê-lo num bacanal
com todos os
ministros
com todos os ministérios
a arfar de prazer
a enrabar o
défice, o orçamento,
o IVA, a inflação, a recessão
àgil e empreendedor
como um super-homem
Estou apaixonado pelo primeiro-ministro
quero vê-lo num filme porno.
Depois desta tarde poética recuperamos o folego ao som dos suecos Shout out louds e da sua pop florida. Ao que se seguiu o pior concerto do festival que de tanto maduro caíu de podre. Enfim, por mais que respeite os membros dos Maduros aquilo foi muito mau! Enfim...
Depois de aturarmos dois concertos fracos - ok, pronto, os block party até que não foram assim tão fracos - e de apanharmos com chuva nos cornos, fomos bafejados pela sorte de encontrar estes dois senhores, quais mitos vivos da música portuguesa, quais espectadores como nós, na zona dos comes e bebes. E não foi que os senhores tiveram a amabilidade de tirar uma foto conosco. Ok, se não reconheceram já, os senhores do meio são o Exmo. Sr. Tó Rui, exímio guitarrista e o grande Toni Fortuna - também conhecido como o "vou ali já venho do punk rock nacional" - dos grandes d3ö! Os outros dois somos os do costume.
Outro grande concerto do festival: Yeah Yeah Yeahs! Curto mas poderoso! Infelizmente tocaram pouco e a seguir tivemos de gramar com os coitadinhos dos Block Party e dos ainda mais coitadinhos do We Are Scientists que de tão normais até metem dó, enfim...
Outro dos momentos altos do festival e o mais emblemático de todas as actuações: o vocalista de Gang of Four a destruir um microondas à tacada de basebol! Um dos concertos mais aguardados de uma banda que se apresentava pela primeira vez em Portugal 25 anos depois da primeira data que tiveram marcada para o nosso país. Na minha opinião se eles fossem uns putos novos arrebentavam com tudo, mas como já são Kotas a malta filha a olhar de boca aberta. Fenomenal! To hell with poverty, Damaged goods, Ether, I Found that essence rare e Anthrax nem uma faltou neste concerto brutal! É pena é que logo neste não consegui tirar fotos de jeito, também não tive muito interessado nisso...
Por falar em fixes - parece que as duas bandas se deram bastante bem, tendo os americanos convidado os tugas a irem para os states fazerem umas datas em conjunto - e mesmo sem Josh Homme, mas com outros companheiros das desert sessions, os Eagles of Death Metal e o seu "the devil" deram um bom concerto.
O primeiro concerto do segundo dia coube aos portugueses Vicious 5. Foi a primeira vez que os vi e, pelo que vi, acho que vou repetir a dose um destes dias, é que se como banda são competentes, o vocalista como personagem cómica é o maior - ou como ele próprio diz alguém tem de ser o "fixe" da banda!
Mais uma vez comprovou-se que não há nada mais democrático do que uma bela chuvada - molha a todos pela mesma medida!
O sacana do Morrisey teve de trazer a chuva com ele e dessa forma transformar uma alegre autovivenda num refúgio para o pobre do refugiado fugido ao mau temperamento de São Pedro. God must be winning!
A acabar a primeira noite do festival os Fischerspooner encarregaram-se de nos proporcionar uma verdadeira orgia de cores, fatos de carnaval e confettis...
Broken Social Scene - O primeiro grande concerto do festival. Magnífico! Menos pop e muito mais psicadélico do que estava à espera foi um concerto para ficar na memória. Já o Morrisey decepcionou-me um pouco, mas eu também nunca fui grande fã - para aturar dor de corno já me basta a minha!
Gomez - um dos bons concertos do primeiro dia. Já andava aos anos para os ver ao vivo, não defraudaram mas também não encantaram.
Vista quase panorâmica do público no primeiro dia do festival - ainda fazia sol!
Melhor da festa de recepção ao campista: Warren Suicide. Nada de extraordinário - aliás diria esta noite ficou uns furos a baixo da noite anterior.
Quem vai a caminho de Paredes de Coura, já depois de passar por Vilar de Mouros, dá com esta pequena maravilha natural... Em menos de um mês, desapareceram os dois maiores e mais talentosos visionários de uma das gerações que, como poucas, marcou pelo arrrojo e diferença a história da música popular.
Um há muito retirado (Syd Barrett). O outro ainda com desejo em concretizar novas ideias. Um, o diamante louco que levou cor e novas formas a Londres. O outro, o mais encantador profeta quimicamente alterado que da música com cheiro a Terra fez surgir novas imagens para novas formas de percepção.Nuno Galopim in sound - - vison.blogspot.com